O futuro é a colaboração: A Arte de Pedir, de Amanda Palmer

Giovanna Nardini
3 min readJan 3, 2021

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A minha última leitura concluída em 2020 foi o livro A Arte de Pedir, da Amanda Palmer — musicista, cantora, toda performática, uma pessoa admirável e inspiradora (e um pouco controversa também, há quem diga — eu não digo). Talvez você já tenha visto a palestra dela no TED que, inclusive, deu origem ao livro do qual vou falar aqui.

(Se você nunca ouviu falar, essa é Amanda Palmer)

Ouvi alguém, em algum podcast, em algum lugar (2020 foi um ano de muitas coisas, é difícil lembrar de todas) falando sobre a magia que havia no que ela escreveu, e coloquei na minha lista de livros-que-talvez-eu-leia-mas-não-são-prioridade. Lá pelas tantas em dezembro, tomada pelo tédio, comecei a leitura e me esforcei pra terminar ainda esse ano — deixando dois ou três outros livros começados de lado, sem nenhuma culpa.

Foi uma leitura muito gostosa e gratificante. O texto é uma mistura de autobiografia, causos, histórias, lições valiosas de vida. Amanda escreve sobre sua carreira na indústria da música e na arte, conta sobre os tempos que trabalho como estátua viva, quando fez sucesso na música, quando rompeu com sua gravadora e decidiu fazer as coisas de forma independe. Enfim, uma série de coisas, que tem como ligação a ideia de pedir, doar e receber. Ao mostrar seus erros e acertos, expor vulnerabilidades, dores, desejos, terminei o livro com a sensação de que tinha ouvido uma amiga contando uma longa história. Se já admirava o seu trabalho musical, passei a admirá-la ainda mais como pessoa.

O que se refleti durante a leitura de todo o livro é que pedir pode parecer uma coisa simples, mas não é. Quanta vulnerabilidade está envolvida no ato de pedir por alguma coisa? Ou, mais simplesmente, em apenas deixar que alguém ajude? Amanda mostra que aqueles que ajudam, as pessoas que doam, fazem, auxiliam, fazem isso porque também é importante pra elas. É uma forma belíssima de criar conexões profundas. É um ciclo, energias que vão passando adiante. Mais do que qualquer coisa, este é um livro sobre conexões.

Conexões entre as pessoas que a autora apresente e a conexão que a autora cria entre ela e nós, leitores, de maneira muito profunda. Essa palavra pode até soar meio vaga demais, principalmente num ano de pandemia, quando a maior parte das nossas conexões foram online, as nossas trocas foram realizadas pelo zoom. Mas acho que o X da questão está exatamente aí, a gente sentiu falta exatamente do que Amanda estava dizendo, das trocas, das conexões feitas, dos gestos de doar, receber, pedir, conectar.

Além das lições pessoais muito engrandecedoras que eu encontrei aí, fiquei impressionada com o quanto Amanda Palmer é, sem sombra de dúvidas, uma visionária. O livro foi publicado em 2014 e o que encontramos nele é o retrato de uma ideia de economia colaborativa, das trocas baseadas na confiança, que apontam diretamente para o futuro. Coisas que já estão acontecendo, afinal, o que é andar de Uber se não confiar que um desconhecido vai te dar uma carona? Acho que hoje em dia todo mundo tem uma ideia do que seja economia colaborativa, mas em 2014? Essa ideia estava rastejando. uau.

As inúmeras críticas que Amanda recebeu na época em que lançou um CD apenas através de financiamento coletivo só mostram como ela estava realmente inovando. Hoje em dia estamos vendo isso em todos os lugares.

Pra mim, a palavra que representa o futuro é “colaboração”, e isso ficou ainda mais claro depois dessa leitura.

Fica aqui a recomendação de um livro muito gostoso e que fala de um assunto primordial para os dias de hoje, a nível pessoal e global. Espero que em 2021 a gente possa voltar a estabelecer nossas conexões e realizar nossas trocas, dando a devida importância para esses momentos.

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